Luana tinha papel, lápis, 36 poses na câmera, tudo ao seu lado, mas não podia registrar o espetáculo porque seu teste era manter os olhos fechados -e calmos, porque de olhos apertados e enrugados é fácil. Luana era atenta ao circo que acarinhava o escudo translúcido de seu olhar, sol que atravessa. Olhava para fora e via dentro, via -caminho que ia, estrada de festejos. Mas, como em misturas químicas, o vermelho ia dissolvendo-se, o amarelo dissipando-se, o laranja desarmando-se, e o resquício mais quente do poente era um violeta, que se transformava em roxo e começava a dar espaço a rarefeitos vagalumes azuis. A pupila desacobertou-se, mas Luana quase que nem percebeu, uma paz ia subindo, em oposta sincronia ao sol rubro que chegava ao fim, em saída de maestro que regera pontos brilhantes de luz no céu da pupila e agora descia do palco em carisma plena. As estrelas se reproduziam em instantânea sensualidade naquele céu de cidade menor, e a lua cheia era agora a dama mais elegante da boate. Mesmo sem estrelas cadentes, Luana ficou a dançar no céu, cantando na garganta e imaginando-se de beiços colados a um microfone retrô.
terça-feira, 27 de julho de 2010
Caleidoscópio
Postado por
helena
às
22:18:00
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Marcadores:
prosa
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário