Era bonito, oblíquo
Quase desimportava
Doía cabeças
Caía canelas
Despenteava dondocas
Que amor sempre existiu
Bruto, desconfiado
Beirando calçada
Com olhos de esguelha
Era saúde, era altura
Quase ninguém bizoiava
Era choro recatado
Soava o apito de trânsito
Hora certa toda justa
Pro menino dançarino
Passo linha
Passa linha
Passa palavra
Passo de letra
Nas nuances singulares
Simbolismo analfabeto
O menino cabisbaixo
Passeava nos versinhos
Era valsa, era verdade
Pouco antes da esquina
Na avenida sem sinal
Todo dia em hora certa
O menino desatento
Caminhava lendo poemas
Hora de sinal errado
Hora desonrar demora
Hora fora de semáforo
Dançarino era o galho
Tão bonito tão oblíquo
Segurava menino, lia dois versos
Menino parava e olhava a rua
Ontem cortaram o galho
A saúde altura valsa
A verdade salvação
Ontem cortaram o galho
(Pobre galho)
E o tronco murchou
E o menino dançarino
Atropelado morreu
A dança voada nos ventos
O poema jogado no meio da rua.
Acho que esse é meu preferido.
ResponderExcluirTransbordo em um mar de emoção, minha vista embaça, enquanto o eu-menino me vejo atravessando a rua.
ResponderExcluirSinto falta.
O vazio do poema não-escrito, jogado no chão da vida. Só a ti, só você que escreve sobre minha dor, sem saber o que sou, quem sou.
Obrigado.