domingo, 30 de setembro de 2012

Da eternidade

quando eu for uma velha cansada
dessas que assistem novela
e perdem no bingo - todo domingo
não vou cair no ponto-morto
de piscar por longos tempos
como se estivera ainda acordada
e nem vergonha terei
de minha dentadura cadente
decadente.

pois quando eu for uma velha cansada
espero ficar bem velha
e nada cansada,

muito menos casada
com qualquer um que não seja
os livros que você me deu
nos tempos das belas dedicatórias
aos sempres mais delicados
que enfim nem deram certo
mas são talvez mais eternos
que uma velha cansada qualquer.

domingo, 23 de setembro de 2012

Poética

não faz muito tempo
eu me perguntei
que fim levaria
minha poesia
e pra onde tinha ido
essa maldita

fiquei aflita
saltos de agonia
e a safada chegou
certo dia
com fome e carinhos
como se nada
tivesse acontecido

ainda assim decidi
não quero mais ser poetisa.

a partir de agora
só o que me importa
é viver toda
e qualquer
poesia

porque enfim entendi
que ser poeta
não é nenhuma proeza.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Ruptura

desde outros carnavais
nada deu nem me tem dado
tempo loucuras estórias
tulipas almoços fragrâncias
amores no fim da tarde
no meio da noite
ou dispor do dia

a única amostra que me deu
foi seu desdém
desordenado

disso
abri mão
joguei fora;
larguei qualquer resquício
e agora
voo.

sábado, 15 de setembro de 2012

Borralheira

baile
brilho
balancê e
beatles;
babado
batom
botão
beleza;

o boy
que deseja
quedê
           ?
           seja
a boca
o beijo
cabelos
no baile

mas dela
                 aceno
                 bocejo
doze badaladas

BYE
BYE

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Resquício

do que foi ou viu
nada mais vale
se aquilo ou isso
malgrados ou malefícios

se jogou do particípio
de toda sua vida
(indicativo)
conjugado ao
                 pre
                 ci
                 pí
                 ci
                 o
                 .

momento presente-gerúndio
muito-menos-que-perfeito
na queda
sem baque
sem fundo.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Boca

1. A boca antes gritava
    A boca gemia e seria vermelha
    Não fosse o então brancor
    De sua palidez

2. A boca larga
    - boca delgada -
    De gente sedenta
    Em setenta dentes
    Da boca úmida
    Unida à outra boca
    Falando mais e em dobro

3. Engolindo também o dobro
    Do choro
    E do mal cheiro
    - malfeitor -
    Transfigurador defeições
    Ou foices ou frases
    Os ases da sorte
    Um corte de azares
    No beiço apertado

4. A boca calou-se
    Nos escombros
    C A L A B O U Ç O
    E foi aí que o corpo
    Se acabou.