sexta-feira, 22 de junho de 2012

Definições

frederico, frederico
então diz que poesia é risco?

pois eu digo que além disso
acima de tudo poesia é riso
ou de gozo ou de nervoso
riso alto ou recolhido

às vezes um cisco no olho
às vezes a queda
                           de
                           um
                           cílio.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Flor chilena

se quero agora escrever
é porque Violeta já quis um dia

nada de poema (re)lento
lirismo parado, sem tempo
sem saber denada

não me importa não saber de mim
ou de ti
mas sim saber do mundo violento
- e vermelho
em que voou Violeta
ainda nem velha
longe das vistas,
rosto de índia
marca de varíola
Violeta pajarita
que não se aguentou sofrida
e morreu (como viveu)
mulher bonita.

há de estar feliz e de estar triste
pois Violeta canta e toca
e pinta e ama
e me faz chorar
enquanto eu, fraca
              (eu tola)
só me faço escrever
uns bobos versos diários
sem voz sem força

pois há de estar beirando a arte
tal qual fosse a própria vida
e nunca (nunca!) deixar
adestrar-se.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Conto da apertação

Dinossaurava, com as mãos de unhas roídas postadas para a frente, abanando o vento e o caminho que vinha. Passava lento, complicando-se em cada pegada, e já nem mais as horas sabia ler por detrás dos longos pelos abandonados na era do preto e branco. As costas dromedárias deviam doer grunhidos no chegar cansado da tarde parda de pardais escondidos em vielas paulistanas. O amarelo nas sacadas e portas altas era o outono intocável do centro velho, entre postes de luz apagada, entre o dia que vinha à trabalho e a lua que não fazia questão nenhuma de postar-se parada vendo as vidas se cruzarem em bem-ou-mal-quereres. Ali nos víamos, amarelados pelos abajures da cidade, eu e o senhorinho, que andou tal como andava antes, parou rente à minha vista e tirou o marrom sujo dos sapatos junto com os sapatos todos, enlameados, sobrando de inteiro só o cadarço sujo. Saiu descalço, lento e doído, manchando o chão gelado com um sangue tão mirrado e tanto, nem nele cabiam adjetivos mais. A equipe de limpeza chegou naquela mesma semana e o sangue fraco, esparramado, foi-se em queda pelos bueiros, pelos cheiros do centro velho. Os pés do senhor cicatrizavam de poucos, à revelia das plaquetas precárias, enquanto (entretanto) as dores se enfrioravam cada vez mais. Passou dia, passou outro, e os cadarços, por travessura alheia, resistem segurando os velhos sapatos sobre a fiação, dependurados, espiando a todo tempo a cidade que nem mesmo a lua teve vontade de ver.

sábado, 9 de junho de 2012

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Saga

qualquer quem
cada um
(cadafalso)
caiu da escada
gradual
            degrau
                        abaixo

estrela cadente
em cadeira de rodas
descansa luz
sossega o facho
e se fecha quadrada
no tapete da sala.