terça-feira, 26 de março de 2013

Cochilinho


desde que eu era criança
tinha o frequente hábito:
mal entrava num carro
já dormir
e dormia tanto
(mas tanto!)
que chegava a babar

hoje tenho dezessete
e sei bem
que verdadeira adulta ainda não sou
pois é tiro e queda:
mal entro num carro
já faço minha ridícula
piscina
de saliva

dessas breves dormidas
ficou a lembrança
dos sonhos malucos
que tive quando criança.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Noite no litoral


o mar me olha
como eu nunca olhei ninguém
não é por querer
ou por malquerer:
para ele
tudo não passa de uma questão de hábito.

como se fosse fácil
ler os céus
tornar-se estrelas
quando em noites de onda crua.
como se fosse nu
e não doesse ver seu corpo
seu ângulos, seus jeitos
que esconde em verdes águas
às vezes azuis
ou cor de areia.

bem que o mar poderia ser desprezo
o gigante
o insuportável
o rouba-atenções da lua
o movimento sem medo
mas não:
ele me acolhe
(sereia)
a mim e a toda minha inveja.