quarta-feira, 24 de abril de 2013

O mundo no asfalto do medo

Na rua de baixo
tem um homem
cujas partes de baixo
e linguajar baixo
me dão medo.

Assombra-me os passos
de noite e de dia
sua voz sombria
que se soma às injustiças
fincadas nas sombras do mundo
durante a penumbra da noite.

O homem
que me amedronta
não ama a ninguém
e nem ama a mim
quando silva assovios
e cospe elogios
em meus ouvidos.

Não ama nem a si próprio
este homem
homem ingrato e folgado
só serve para servir-se
e cobrar os serviços
de suas domésticas.

Caso se amasse
veria a verdade
que exala nos pelos do corpo:
todo homem que se impõe
- HOMEM!
Com tudo que tem direito
vira um monstro
tal qual este ser asqueroso
de zíper aberto
volumes expostos
na busca de caça
para exercer o privado
no meio público
sob a força dos braços
e das ameaças.

O homem me dá medo
mas é por pouco tempo:
em breve serei mais forte
que os cortes e sustos do vento.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Não me esqueci

Quando eu olhar para os lados
verei somente o espelho do céu
sobre o chão de miragens
da estrada mais que sozinha,
eu na estrada vazia.

Meus amigos estão longe
levaram mala, cuia, tudo
foram cada um ao seu canto
tocar a vida
em estudos e artes,
nas novas cidades,
no dinheiro que a vida cobra
e nos descobre adultos.

No frio das europas ou
no calor do interior
meus amigos devem estar bem.
Devem cantar aos pouquinhos
e dançar escondidos
pelados no quarto
sozinhos ou, quem sabe,
com novos amigos.

Quisera eu voltar aos tempos
em que a tarde era livre
para fazermos comida
sentarmos em roda
por entre os abraços.

Pois na verdade meus amigos
são mesmo lindos
pensam no céu como um teto azul
nas nuvens como um algodoal
e gigante sinal da chuva.

Nós amigos cobramos de nós
igual:
que sejamos o nosso básico
que é o fácil que somos
quando em plena felicidade.

Quase muitos, quase todos
meus amigos já saíram da cidade
e eu fico aqui
afogada
em afazeres que me alegram.

Amanhã caço uma brecha
e, pensando,
faço uma breve visita
àqueles que por anos
fizeram à minha vida.