segunda-feira, 28 de maio de 2012

Rotineiro

Li outro dia
que a poesia de Drummond
era ofício;
carga horária e literária

Aí foi que percebi
nas linhas duras, deitadas
nas serifas das palavras
que não sei que é escrever

Não faço mais questão
de letra e ponto final
conjugação conjugal

Abdico da chuva e do amor
esses traumas da escrita
tempo exato do relógio

E me ponho a estar atenta
tentada a toda tentativa
testemunha de tropeços e tolices
a estudar a poesia;
a política e a física
a falta de filosofia:
me proponho.

(caem pingos; eu escrevo
caem noites; eu escrevo
cá em ventos; eu escrevo)
Mas acaba que não escrevo
me acabo cravada em traves

Olhos vendados às venturas
às vivências de poema
e me vendo por poemas circunstantes
circuncidados circulares por compasso
sem história, sem passado nem passante
um apanhado de fonema fácil

Então foi que larguei tudo isso
e fui ver que a vida é bonita
e que há muito o que fazer
e que

        ahhh

Me ponho sem palavras
como quem pensa antes de dormir
mas o sono dos dedos impede os registros
e no dia seguinte não lembra mais nada
só acorda com a sede mais bruta do mundo;

Esquece tudo e
bebe água.

3 comentários:

  1. helena ;_;
    esse superou todos.
    cê é muito inspiradora, heleninha, muito muito

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  2. Queria me por a escrever palavras. Queria não dormir e acordar os dedos. Queria poder dizer palavras que nunca disse. Queria esquecer as letras que nunca tive.
    Eu queria ser copia da menina, cópia mal feita que luta pela perfeição. Mas cópia me dói, cópias me causam...
    Eu queria ter a sede, o mundo. Mas me falta a chuva, me sobra o vento, o frio, a água.

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