domingo, 17 de fevereiro de 2013

O outro vestido


provei um vestido de seda
com cheiro de amêndoas
e dele vesti-me
em seus tons de azul
como se me fosse a própria pele
e os ares fossem meus
(quem dera!)

eu que sou moça fuleira
nunca havia feito dessas
de vestir roupa de festa
e olhar
fundo
nos olhos do espelho
onde o direito é o esquerdo
onde assim vai, aos reflexos
e se esvai

bem como aprovei
a trama daquele tecido
desprovei, tirei, dobrei de volta
não porque seja fuleira
mas porque veio a lembrança
de tudo que gosto na vida

vestido bom é aquele
que escreveu Carlos Drummond
com a roupa de escritor
feita sob medida
para sua humana assimetria
que transforma
até mesmo
assinatura
em poesia.

Um comentário:

  1. de nada valem esses espelhos que refletem pele. bom mesmo é aquele espelho guardado por dentro, onde apenas nós mesmos sabemos o que temos.

    flores.

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