quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Poema sem pulso

Quantos passarinhos é preciso trazer-te
para que me tenha ao seu lado?
Dez, cem, mil?
Ou será que um origami
no papel de jornal velho?
Talvez dois canários
talvez uma pomba suja.
Mal sei o número de passos
que devo dar, inequívoca,
até te alcançar
mesmo em braços esticados
pontas dos dedos.
Sei quantos posso por mim
não sei quantos você
me permite.

Criar sacrifícios e provas de amor
falsificar simulacros
entre os astros do universo,
gigantesco universo
que ninguém conhece o fim.
Os fins dos romances já sabemos
está escrito na última página.
Mas dentre tudo isso, que dizer
do fim de nós dois?

Esse fim se resguarda, à espreita,
guardado nos confins dos bons organismos
não como um vírus da gripe
mas uma doença fatal e rara
de poucos estudos e maus tratamentos
onde se guardam
nossos sublimes segredos
que nos tornam
apenas
a essência do que somos.
Sumo.

Quero que acredite em mim
como acreditou não em minha voz
não minhas cordas vocais ou gengivas
mas acreditou em meus lábios.
E acreditou, piamente, e quase chorou
naquele romance de mortes
que leu no mês passado, sozinho,
mas repetiu para mim,
deitados na grama
esperando o ônibus,
as suas frases favoritas.
Um romance de mortos
para um homem vivo,
dotado e detido na angústia e
raiva
que palpita de suas orelhas
pelas fendas que te chegam no cérebro
e do cérebro invade o sangue
até explodir em bomba o coração.

Odeio usar a palavra coração.
Coração Coração Coração.
Me parece que a palavra coração carrega
sugestões de filmes estúpidos
rimas fracas, publicitárias
e a tosca perfeição de um amor
em olhos azuis.
No entanto seguimos aqui.
Estamos vivos.

3 comentários:

  1. Meu Deus, que versos lindos, parabéns pelos teus sentimentos e tua escrita.

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  2. Os fins dos romances já sabemos
    está escrito na última página.
    Mas dentre tudo isso, que dizer
    do fim de nós dois?

    tive um treco
    puf

    (Giu)

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  3. Eu sou MUITO sua fã, garota. Cê é puro amor e poesia. Boa sorte sempreeeee!

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