segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O que resiste

Mofou o queijo.
Mofou o pão.
De todos teus ângulos só
vejo
bolor
uma película verde
branca
marrom
na razão do incremento,
o ar que respiro.
Mofou o bolo
que fiz com carinho.
Até o leite coalhou.

O resto de doce
do fim de semana clama
formigas!
e apodrece em sua
rasgada embalagem.

Choveu toda noite
e pela madrugada
em sono a brisa nos fez
do relento à garoa.
Dores no corpo
catarro.
A cama nos prende inertes.

Chove e
enquanto caem as gotas
do esgoto indiscreto
vejo que racham o teto e as paredes.
Uma goteira insiste
aprisionada ao mistério fútil deste
labirinto
de caixas, papéis e leopardos
nossa casa.

Mofou tudo
que havia ao redor.
Tudo de cheiro e de som morreu
intoxicado.

Mas o corpo de nós dois,
este continua vivo,
a pulsar,
no frágil frescor das frutas pequenas.

Um comentário:

  1. Sempre tem algo em nós que resiste aos "mofos" da vida, não? Belo poema, moça.

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