segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Limbo não é vácuo

"Dorme a cidade / Resta um coração Misterioso Faz uma ilusão Soletra um verso Lavra a melodia Singelamente Dolorosamente Doce a música Silenciosa Larga o meu peito Solta-se no espaço Faz-se a certeza Minha canção Réstia de luz onde Dorme o meu irmão"


O sol desmaiou. Daqui a pouco ele volta, é só esperar mais umas dez, onze horas. Enquanto isso, tem outras faíscas por aí, para entreter e manter. No tronco em chamas, choros, histórias; no queijo abrasado, desses mineiros mesmo; no cobertor xadrez e nas mãos maternas. Nos cabelos dessa gente bonita minha. Enquanto isso as infantes moçoilas, outrora rodopiando entre frescores e grama, limpam os pés no tapete de entrada - "Bem vindo!" - e falam sem parar, entre um baralho ou outro, entre mínimos tecos de doce furtadinhos de pouco em pouco. 

Agora é tempo de rede, mas alguns ainda estão a janelar - sempre é tempo de janelar, convenhamos. Essa gente aqui gosta de contar suas histórias, ainda mais de cotovelos ao poente rural. Agora não é amarelo nem azul, agora é coisa do mais verdadeiro diabo (só pode ser), nem fotografia guarda porque os focos são múltiplos, são abertos, são a difusão de um horizonte. Espera um pouquinho, oras. Pois o fogo é feito em turnos, mas o do tal agora não atrasa, não - Sol, fogueira, humanidade. Qualquer coisinha, é só isso: a gente se agarra e vira fogo mútuo, ê amizade. O agora tem céu degradê, mas ainda esquenta. Aproveita o céu de agora, que daqui a pouco ele se esvai, o vento leva (esse vento insiste em levar prazeres, ideias, lembretes, pois é). Não te preocupes, bela moça. Do nosso fogo, esse fogo bonito e solidário, desse mesmo: fazes parte dos próximos turnos.




(06/09/2010, Cordisburgo, Minas Gerais)

Um comentário: