quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Histórias de trem

Abriram-se as portas rudes e o trem lotou. O casal, com seus dois molecotes de cinco anos não mais, equilibrou-se de pé junto a um dos canos do vagão. Na cadeira, um velho metido a engraçado puxou assunto com os pequenos, com os quais igualava altura:

- Qual o seu nome?
- Gabriel.
- Gabriel é um nome bonito. Quantos anos você tem?
- Cinco.
- Há quanto tempo você se chama Gabriel?

O menino, atônito, levou a mão ao muito fino lábio e pensou. O irmão, sussurando, salvou sua honra.
- Cinco.

O velho olhou as crianças, olhou o casal e disse repentino:
- Sexo é mentira.

Claro que os meninos não entenderam nada, assim como os pais, que ficaram um tempo pensando antes de soltar a voz novamente.
- Então os dezoito irmãos desses meninos são tudo mentira!, eles responderam achando graça.
- Vinte filhos?
- Vinte. E o senhor, quantos teve?
- Doze. Mas um morreu. Um casal de enteados também morreu. Mas uma era vagabunda e o outro era ladrão. Tinha é que morrer mesmo.

Abriram-se as portas rudes mas pouca gente entrou dessa vez, que era uma estação um pouco morta. Eu, em compensação, saí do trem. Subi as escadas da plataforma um pouco confusa, um pouco brava, com a impressão de que a gente não é mentira coisa nenhuma.

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