terça-feira, 20 de agosto de 2013

O desbotamento

Que prossigam os árabes e os cavalinhos
os céus mais azuis que miragem
na margem do oásis
a que se chama hoje seu pensamento vago.

Que venham as lagartixas coloridas,
os navios cheios de luzes,
os sorvetes sem açúcar, os tubos de oxigênio e soro.
Que venha até mesmo o sibilo preocupante
da secura de sua boca,
emudecendo,
até que volte cada sílaba
de suas histórias de família.

Viagens solitárias e telepáticas
beiram o abismo num sorpo
ilegível.
Cavalinhos.
Lagartixas.
Céu azul abaixo do teto.
Durcilla emoldurada na borda da cama,
o rosto sério e cru.
Qual o nome de sua mãe?
Você está me vendo?

se mexe, você
e sonha enquanto seu corpo
se molda às dores de uma derrota
iminente,
prevista nos nascimentos,
mas você luta.

E enquanto passeia o mundo,
na brancura sem fundo da cama
sem cheiro
sem gosto
e história recente,
ainda permite que eu sonhe ao seu lado
as mãos atadas às suas
que suam, se aquietam
enquanto me olha como se visse fantasmas.

Por trás desse véu gigantesco,
a pesar mais que a doença,
está preso aos cabelos seu laço de fita
desbotados os tons de rosa
como nas velhas fotografias
da sua infância.

E que por força ou por sorte
seu corpo viaje e enlouqueça
mas que não doa ou desbote.

A saudade pesa, e para sempre
pesará se você não voltar mais.

A árvore de nosso quintal
herdeira de anos e badulaques
faz a sombra aos animais
alimenta os curiós
remonta e responde ao ciclo onde estamos.
Primeiro a solidão em caroços
depois surgir timidamente
florescer, dar fruto, dar-se o tempo
até que a cortem pelo tronco
ou que exploda em tempestade.

Se cortarem este tronco que nos junta
e permite flor e fruta,
vou-me embora e me entrego
de alimento para os pássaros.

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