sexta-feira, 20 de setembro de 2013

As portas do túmulo

Quando morri não houve festa
mas também não houve anjos, não houve fogo
não ouvi barulhos
sequer soluços
e eu,
eu nem chorei de volta.

Bati os pés,
despi o tronco,
mas aquela capela torta
filha das catedrais
calava a tudo
cortava os pulmões
em pedaços de célula morta.
Envolta em madeira e marcas brilhantes,
a capela dormia em mim
e me sufocava ao sono profundo.

Quando morri não houve sofá
não houve poltrona nem comes e bebes
não teve flores em forma de auréola.
Não houve aurora nem entardecer
nem mesmo um céu aconteceu.

Rezar para eternizar, diziam as vozes
dos bispos inexistentes
líquidos, enterrados
sulco entre as vigas
desta minúscula capela.
Sem vitrais, sem desejos
sem prazeres e segredos
sem ornamentos.
Sequer um pequeno confessionário.

E também sem pessoas
nesta última capela
a final de minha vida
onde os bispos rezam, sussurrando
encrustados em paredes de terra
sob os pés de alguns amigos,
não muitos,
que aos prantos pisam meu teto.

Eu não ouço mais nada.
A arquitetura desta capela não permite.
Estendida no altar, as costas ao chão
imito a imagem de Maria
e dou a luz eterna
ao mais eterno nada.
Eu já não existo mais.

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