domingo, 29 de setembro de 2013

O poema infinito

Dentro da folha de papel não constavam
meus pensamentos
ou nada que é meu de direito.
Nada cabe
naquele espaço tão branco que enjoa
e sai voando com ventos quaisquer,
seja os do norte, os do amor
da morte ou do passado,
os ventos que doem no ar.

Na folha de papel havia palavras
aquilo que não se diz o que é
o indescritível.
Havia palavras e delas voariam
flores e colmeias
um par de ideias abraçadas,
não fosse o cárcere inserido na folha
que geme seus versos
e se atrofia em si mesma.

Não cabe mais nada
neste folha de papel.

Porque ela, fantasmagórica
e concreta folha
busca o couro de si
se retroalimenta,
devora.

Nunca haverá um ser humano
dentro do poema.
Nele já transitam,
não entre fibras, moldes, cortes
não dentro de tinteiros e lápis
menos ainda através de poentes
ou belezas de mulher,
mas trespassam, entre as curvas das letras
e os sons da leitura em voz baixa
os traços cranianos de mais um poema
certeiro, encaixado
nos espaços brancos da folha de papel
ainda que os tipos se espremam
e que não haja mais margens.

Um poema sem cores
completamente material
soprando os narizes
que encostam na folha de papel
um bafo úmido,
um desconcerto,
clamando por releituras
do verso primeiro e do oculto.

E dentro deste poema,
ainda mais escondido
se guarda um novo poema,
e outro.

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