segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O sintoma

Sorrindo tem um homem na frente do outro homem, completamente paralelos os dois. Sorri porque saiu de casa, andou até o ponto de ônibus, parou. Havia um homem em sua frente, o mesmo homem para o qual agora ele sorri, amarelado, não porque é feliz, mas porque, das chances que tinha de desviar falsamente, e assim ir para o mesmo lado do outro homem, e essas chances equivaliam a cinquenta por cento, nem mais nem menos, ambos quase se trombaram. Agora quase se trombam de novo. Sorriso. A linha cruzada saiu de seu limiar e extravasou na ruptura cotidiana de dois homens, um para cada lado. 

Às seis horas cumprem o horário, chegam em casa às sete. Depois do banho, se olham em seus espelhos na procura de fios de barba a despontar pelo rosto. Mas o rosto, desde o banal encontro, havia sido trocado, e assim permanece, como o reflexo do sol na água. Eles gritam, apavorados. Mas ninguém nota qualquer diferença, mínima que seja, a ser digna de reparo. O homem sério, sem vontade alguma, sorri com os dentes amarelos que não lhe pertencem, e sente medo da sua própria face.

Um comentário:

  1. Que lindo, e assustador. Os encontro nos mudam, ainda que somente quem mudou perceba essas mudanças.

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