quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Latidos em Érre

Um minuto é muito tempo
Pra silêncio
De vogais

Silenciar vogais
É silenciar oração
Discurso, interjeição
Dos seres vivos deste mundo

Silenciar vogais
Leva consigo o som
De toda consoante
Dos seres vivos deste mundo

Não faço um minuto de silêncio
Porque choro é tom vogal
E soluços também se vogalizam

O leite de teus seios, mulher
É vogal tal qual
A erupção do estômago
Teu bocejo antes de apagar a luz

O ínfimo toque entrepasto
Dos dentes caríticos de um cavalo
E o berro bem ouvinte da vaca
Em rótulas parindo o quarto bezerro

São todos vogais por serem
Não vagais mas, entrelinhas
Voz de ser vivo

Silenciar vogais de máquina
É como tirar, não doce, mas rúcula
Da boca da criança
Maquinaria é consonantal

Não quero silenciar minhas vogais
En cuanto en la Ruta 7
Se quilometra o motor
De consoantes mortes

Vogal
O farfalhar minúsculo dos cílios
O rangido torcicólico quase inaudível
Do pescoço astrônomo e do girassol

Vogal
Do cão, o latido
A língua para fora
Bambolê entre as rodas de um caminhão

A ossada espremida
Vibrando no corpo
O ganido vogal da própria língua
E a benzamorte insistindo na agonia

Uns metros na frente
O império das rodas
Caminhonesca rota de sangue
O incessante zumbido dos érres.

Um comentário:

  1. Esses seus poemas são tão originais que não tenho muito o que dizer.
    Bem, eu recebi um selo de recomendação e, nas regras de repassá-lo, o passo a você, porque com toda a certeza teu blog é recomendável.

    http://tripudie.wordpress.com/selo-1/

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