quinta-feira, 27 de junho de 2013

Saudades de minha mãe

quis voltar, fiquei.
fiz feliz, mas não a mim.
de que vale tudo isso?
os sóis que partem,
as ondas a chacoalhar esta ribanceira.
vê? até os sóis partem!
e então se repartem em mil
quando passam pelos caleidoscópios de mamãe,
sua diversão diária, infantil e imatura.

seu barco se foi.
foram-se os sapatos
que guardava ao pé da cama
em desejos de promessa
não cumprida, coisa louca.

foi-se a boca de cor incolor
e os cabelos bem presos à nuca
que nunca permitiu-me pensar
na solidão em estado sólido,
permeando meu corpo todo
virginal petrificado de bom filho.

só me deixou às intempéries
sem documentos em mãos
sem décadas de experiência
ou noções de decência.
minha vida aqui largada
meus olhos, meus óculos, a camisa
às traças e às catracas da fronteira
no novo país.

por isso e por tudo o que lembro
marejo os olhos
toda vez que a vejo.
mas nunca vejo.
sobrou-me, o que? uma foto.
como eu, o resto do poema fica para trás
e nunca mais se recompões
clandestino, atracado na popa de seu navio
até que eu me afogue
ou que volte.

Um comentário:

  1. Nossa, acompanho muitos blogs, não tenho o costume de comentar, mas após ler esse seu poema devo confrontar essa minha tradição de ausentar palavras. Poema muito belo o seu, me comoveu nesse fim de domingo. Boa semana pra vc.

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